Se comunicar melhor transforma o mundo!

Autocuidado de dentro pra fora.

Cada vez mais entende-se autocuidado como algo que se compra! Massagem, yoga, cosméticos… Daqui a pouco vamos estar falando: não se auto cuidou porque não mereceu dando as bênçãos da meritocracia para o ato de se cuidar.

Cuidar de si é um movimento em direção ao bem estar – ao sentir-se bem – então a proposta de sentir-se confortável na própria pele foi sendo aproveitada pelo marketing de produtos dando a entender que cuidar-se é algo de fora pra dentro. Quero dizer que um chocolate, uma flor, um cosmético, uma massagem, são todas boas estratégias para encontrar prazerosamente alguma satisfação, mas não te conectam com aquilo que vai tirar você do olho do furacão.

Proponho aqui um novo olhar, uma lente que te apoie a compreender o autocuidado como algo de dentro pra fora, como um recurso abundante que te apoie a experimentar as situações da vida a partir de uma integração entre corpo, mente e coração deixando mais simples se adaptar aos furacões e avalanches da vida. Não se trata de estar sempre tranquila, em paz ou zen. Se trata de ter uma consciência das suas reações físicas, emocionais e mentais e integrá-las sem culpar o que está fora de você, trazendo de volta seu poder pessoal sobre aquilo que te cuida.

Na prática, proponho que você compreenda o autocuidado como o que se reconhece como autorregulação, que é a capacidade de integrar as emoções independente do caos que as acompanham. Uma ação que você consiga investir sua energia no que ocorre dentro do seu corpo e então consegue ser o afago que precisa, o respiro que tranquiliza e a ação que te dá suporte em meio ao caos. E como seria isso você deve estar se perguntando.

A autorregulação tem muitas faces e a que posso apresentar nesse momento é aquela que conheci por meio da comunicação não violenta, uma abordagem tecida pelo psicólogo Marshall Rosenberg, que propõe que nossos vínculos sejam fonte de uma intenção clara de cocriamos o bem-estar comum. Ele nos convida a valorizar a pergunta “como você está?” de tal forma que com uma postura investigativa sejamos capazes de nos auto conectar com o que está vivo em nós e empatizar com o que está vivo no outro.

Compreendo que a autorregulação emocional por meio da comunicação não violenta começa quando exercitamos compreender a diferença entre o que de fato está acontecendo e aquilo que penso a respeito do fato. Prestando atenção como um cientista a uma cobaia, olho para meus pensamentos e ouço o que eles me contam sobre o que está vivo em mim. Permito-me então diferenciar o que são meus pensamentos e o que eu estou sentindo a partir deles. E então acolho meus sentimentos e emoções e interajo com eles sem afastá-los já que são excelentes sinalizadores do que pode estar insatisfeito dentro de mim a partir daquela situação. Calma, tem uma rodinha de bicicleta pra te apoiar a encontrar esse equilíbrio, mas esse é um assunto para outro encontro.

Munido dessa lente para o que ocorre dentro de você é possível em meio a uma situação desafiadora voltar nossa energia para dentro e com uma postura investigativa escapar aos sistemas “primitivos” de fuga, luta ou paralisia assumindo de maneira protagonista o cuidado com o que está vivo em você. É como se você tivesse uma constante lente capaz de enxergar: a diferença entre os pensamentos e emoções; notar quais partes do seu corpo estão ativadas por aquela situação, quais emoções estão latentes e o que elas me contam sobre mim, tirando o foco do que está fora e regulando o que está dentro aumentando a capacidade de adaptar-se ao que está acontecendo no entorno.

No início pode ser meio estranho abrir mão do tal autocuidado que soa como carinho e merecimento para se apropriar de uma auto responsabilização que demanda mais energia e esforço. Acontece que a autorregulação,  na verdade, libera o peso de tentar mudar aquilo que está fora de si e que não temos controle, libera também o peso de ter que responder ou reagir às situações quando não temos recursos para isso e por fim torna mais leve a interação com as pessoas envolvidas na situação. E esse peso a menos acaba fortalecendo sua capacidade de se auto cuidar. Que tal seguir nesse novo caminho do autocuidado?​